Nuno da Câmara Pereira: A Maturidade de um Fado em “Só à Noitinha” (1995)
Em 1995, o panorama do fado português foi enriquecido com o lançamento de “Só à Noitinha”, um dos álbuns mais icónicos de Nuno da Câmara Pereira. Este trabalho consolidou a sua carreira e trouxe-lhe o reconhecimento do público e da crítica, atingindo o estatuto de Disco de Prata. Este álbum destaca-se não apenas pela voz inconfundível do artista, mas também pela fusão entre a tradição do fado e arranjos orquestrais de grande complexidade.
A produção de “Só à Noitinha” contou com a colaboração da Orquestra Sinfónica da Lituânia, sob a direção do maestro e contrabaixista argentino Alejandro Erlich-Oliva. Nascido em Buenos Aires em 1948, Erlich-Oliva estudou contrabaixo com Hamlet Greco e fez parte da Orquestra Gulbenkian após se estabelecer em Portugal em 1976. Conhecido pela sua versatilidade e profundidade musical, foi cofundador do Opus Ensemble e trabalhou em várias parcerias que exploram a interseção entre a música clássica e outros géneros.
A participação de Erlich-Oliva neste álbum trouxe uma nova dimensão ao fado, integrando arranjos sinfónicos que elevaram a experiência musical. A colaboração com a Orquestra Sinfónica da Lituânia, conhecida pela sua competência e pela adaptação a diferentes géneros musicais, deu ao álbum uma sonoridade rica e envolvente, provando ser uma escolha acertada para o projeto.
“Só à Noitinha” marca um ponto de viragem na carreira de Nuno da Câmara Pereira. Tendo já explorado diversas facetas do fado, este trabalho reflete a sua maturidade artística e capacidade de inovação dentro do género. O single de destaque, “Fado É Bom Pra Xu-Xu”, rapidamente se tornou um sucesso, contribuindo para o reconhecimento do álbum. A música, com a sua melodia cativante e letras que ressoam com o público, exemplifica o toque pessoal que Nuno da Câmara Pereira trouxe para o fado.
A escolha de integrar uma orquestra sinfónica foi arrojada, mas revelou-se certeira. A direção de Alejandro Erlich-Oliva imprimiu ao álbum uma riqueza instrumental que complementou a voz poderosa de Nuno da Câmara Pereira, criando uma simbiose perfeita entre a tradição do fado e a sofisticação da música clássica.
A Orquestra Sinfónica da Lituânia é reconhecida pela sua versatilidade e qualidade artística. Com uma longa trajetória que inclui colaborações internacionais e um repertório que vai desde o clássico ao contemporâneo, a orquestra trouxe um toque de excelência e distinção a “Só à Noitinha”. A sua capacidade de adaptação a diferentes estilos musicais permitiu que a tradição fadista fosse enriquecida com nuances sinfónicas sem perder a sua essência.
O resultado final de “Só à Noitinha” é uma obra-prima que continua a ser apreciada décadas depois do seu lançamento. A visão de Nuno da Câmara Pereira, apoiada pela direção magistral de Alejandro Erlich-Oliva e pela performance da Orquestra Sinfónica da Lituânia, deixou um marco na música portuguesa, provando que a tradição pode e deve evoluir através da colaboração e da inovação.
Este álbum é um testemunho da paixão de Nuno da Câmara Pereira pelo fado e da sua vontade de expandir os horizontes do género, incorporando elementos que o elevam e o renovam. “Só à Noitinha” permanece, assim, um exemplo da capacidade do fado de se reinventar e de emocionar gerações.